Putin avisa os Estados Unidos para uma crise de mísseis ao estilo da Guerra Fria

por Cristina Sambado - RTP
Vyacheslav Prokofyev – EPA

O presidente russo, Vladimir Putin, avisou no domingo os Estados Unidos que, se Washington instalasse mísseis de longo alcance na Alemanha, a Rússia instalaria mísseis semelhantes à distância de ataque do Ocidente.

Num discurso dirigido a marinheiros da Rússia, China, Argélia e Índia, para assinalar o Dia da Marinha russa na antiga capital imperial de São Petersburgo, Putin avisou os Estados Unidos de que se arriscavam a desencadear uma crise de mísseis ao estilo da Guerra Fria com esta medida.
Os Estados Unidos anunciaram a 10 de julho que começariam a instalar mísseis de longo alcance na Alemanha a partir de 2026, em preparação para uma instalação a longo prazo que incluirá SM-6, mísseis de cruzeiro Tomahawk e armas hipersónicas em desenvolvimento.
O tempo de voo para alvos no nosso território de tais mísseis, que no futuro poderão ser equipados com ogivas nucleares, será de cerca de 10 minutos”, afirmou o presidente russo.

“Tomaremos medidas espelhadas para implantar, levando em consideração as ações dos Estados Unidos, seus satélites na Europa e em outras regiões do mundo”, acrescentou.

Putin, que enviou o seu exército para a Ucrânia em 2022, apresenta a guerra como parte de uma luta histórica com o Ocidente, que, segundo ele, humilhou a Rússia após a queda da União Soviética em 1991, invadindo o que ele considera a esfera de influência de Moscovo.

A Ucrânia e o Ocidente dizem que Putin está envolvido numa apropriação de terras ao estilo imperial. Os dois países prometeram derrotar a Rússia, que atualmente controla cerca de 18 por cento da Ucrânia, incluindo a Crimeia, e partes de quatro regiões no leste da Ucrânia.

A Rússia diz que as terras, outrora parte do império russo, são agora novamente parte da Rússia e que nunca serão devolvidas.
Mísseis nucleares de alcance intermédio

Este tipo armamento, com um alcance de 500 e 5.500 quilómetros (Km), já foi objeto de um tratado de limitação entre Washington e Moscovo, o tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (na sigla em inglês, INF), assinado na época da antiga União Soviética.

A Rússia e os Estados Unidos retiraram-se deste tratado em 2019, com ambos a acusarem-se mutuamente de já não respeitar as suas disposições.


Moscovo tinha, no entanto, anunciado que não iria reiniciar a produção deste tipo de mísseis enquanto os Estados Unidos não os implantassem no estrangeiro.

Washington e Berlim anunciaram em julho a intenção de "iniciar implantações de armas de fogo de longo alcance" na Alemanha em 2026.

"Importantes locais russos da administração estatal e do exército estarão ao alcance destes mísseis (...). O tempo de voo destes mísseis, que poderão no futuro ser equipados com ogivas nucleares, até aos nossos territórios será de cerca de 10 minutos", explicou Putin.

O Kremlin já tinha avisado em meados de julho que as capitais europeias se tornariam alvos legítimos para a Rússia no caso da implantação de mísseis americanos no continente.
Guerra fria?

Diplomatas russos e norte-americanos consideram que as relações diplomáticas, entre as duas potências, são piores do que durante a Crise dos Mísseis de Cuba de 1962, quando Moscovo e Washington apelaram à desescalada, mas deram passos no sentido da escalada.

Putin afirmou que os Estados Unidos estavam a alimentar as tensões e que tinham transferido sistemas de mísseis Typhon para a Dinamarca e as Filipinas, e comparou os planos dos EUA à decisão da NATO de instalar lançadores Pershing II na Europa Ocidental em 1979.

O Pershing II, concebido para lançar uma ogiva nuclear de rendimento variável, foi colocado na Alemanha Ocidental em 1983. A liderança soviética, incluindo o secretário-geral Yuri Andropov, temia que a instalação dos Pershing II fizesse parte de um plano elaborado pelos EUA para decapitar a União Soviética, eliminando a sua liderança política e militar.

“Esta situação faz lembrar os acontecimentos da Guerra Fria relacionados com a instalação de mísseis Pershing de médio alcance americanos na Europa”, frisou Putin.

Em 1983, Andropov e o KGB interpretaram uma série de medidas dos EUA, incluindo a instalação do Pershing II e um grande exercício da NATO, como sinais de que o Ocidente estava prestes a lançar um ataque preventivo contra a União Soviética.

Putin repetiu um aviso anterior de que a Rússia poderia retomar a produção de mísseis nucleares de alcance intermédio e mais curto e, em seguida, considerar onde os colocar, depois de os Estados Unidos terem avançado com a possibilidade de colocar mísseis semelhantes na Europa e Ásia.

c/agências
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